Água contaminada por uma fábrica na Mongólia Interior fumega enquanto escorre para o curso superior do rio Amarelo.
"Uma crise fermenta no coração setentrional da China. Fonte de vida, o rio Amarelo sucumbe à poluição e ao uso excessivo da sua água.
(...) Enquanto o rio Amarelo serpenteia pela paisagem estéril da região centro-norte da China, reluz no horizonte uma visão de esplendor, mesmo sob um céu inclemente: ali florescem arrozais verde-esmeralda, hectares de girassóis amarelos e viçosos campos de milho, trigo e goji. Não se trata de uma miragem. O vasto oásis da região setentrional de Ningxia, quase a meio do percurso de 5.460 km percorrido pelo rio entre o planalto do Tibete e o mar de Bo Hai, sobrevive há mais de dois mil anos, sensivelmente desde a altura em que o imperador Qin para ali enviou um exército de engenheiros-camponeses, que construíram canais e cultivaram produtos agrícolas para alimentar os soldados que defendiam a Grande Muralha da China.
(...)
Este paraíso sobre a Terra está a desaparecer rapidamente. A proliferação de fábricas, explorações agrícolas e cidades suga tudo e deixa o rio Amarelo seco. A pouca água que resta está a ser envenenada."
Factos importantes:
- Em mais de metade do percurso do rio Amarelo, a água não é potável;
- Ao longo do curso inferior do rio, existem várias "aldeias cancerígenas" onde a poluição fez disparar em flecha a incidência de cancro do estômago ou do esófago;
- Quase dois terços da população rural da China consomem água poluída;
- Cerca de metade da população da China vive no Norte, onde a procura de recursos hídricos excede a oferta;
- Das cerca de 660 cidades da China, mais de 400 não dispõem de água em quantidade suficiente e em mais de 100 registam-se graves quebras;
- Com tanta água desviada para irrigação e indústria, o rio secou durante vários dias, antes de chegar à foz, em nove dos dez anos da década de 1990;
- Algumas barragens, em vez de ajudarem a evitar as cheias, abrandam a corrente do rio, aumentam os depósitos de sedimentos e as inundações a montante;
- O consumo de águas subterrâneas quase duplicou desde 1970, devido à poluição da água do rio. Na actualidade, dois terços do consumo total de água provêm de aquíferos e o lençol freático não pára de diminuir;
- A água na China era gratuita até 1985;
- O aquecimento global está a acelerar o recuo dos glaciares, que alimentam os principais rios chineses, e o avanço dos desertos;
- Para salvar os grandes rios, a artilharia e os aviões bombardeiam as nuvens com cristais de iodeto de prata, em torno dos quais a humidade pode acumular-se e tornar-se suficientemente pesada para cair sob a forma de chuva.
Fonte: Águas Amargas. National Geographic Portugal, Agosto, 2008.
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